Jackson Cionek
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O Sentir e Saber Taá do Natal

Eu não quero tirar o Natal de ninguém.
Quero só acender uma luzinha a mais por dentro.

O Sentir e Saber Taá do Natal

O Sentir e Saber Taá do Natal

Eu lembro do calor grudando na pele, cigarra cantando, céu estourando de azul — e na televisão, neve, lareira e pinheiro europeu.
Meu corpo dizia: verão.
As imagens insistiam: inverno.
Ali, sem ninguém me explicar, já havia um conflito entre o que eu sentia e o que eu era mandado acreditar.
Isso é Taá: o sentir antes do saber.
E também é o ponto em que, muitas vezes, a fé é convidada a se calar para caber na norma.
Quando olho para o Natal hoje, em Consciência em Primeira Pessoa, eu percebo duas coisas ao mesmo tempo:
  1. Um desejo legítimo de celebrar amor, nascimento, cuidado.

  2. Um pacote pesado de colonização do tempo, do corpo e da espiritualidade — misturado com lucro, consumo e impacto climático.

Eu não falo “vocês”; eu falo “nós”.
Porque eu também fui treinado a celebrar um menino do inverno europeu debaixo do sol escaldante do hemisfério sul, sem nunca perguntar nada.

Capitalismo Republicano de Espíritos sem Corpos Politica Espiritualidade e Neurociencias Decolonial
Capitalismo Republicano de Espíritos sem Corpos
Politica Espiritualidade e Neurociencias Decolonial

Antes do Natal, já existia festa

Muito antes do cristianismo, povos de todos os continentes olhavam para os ciclos do Sol e da Terra e faziam algo muito simples e muito profundo: celebrar o movimento do céu no corpo.
  • Solstícios de inverno: o dia mais curto, o tempo em que a luz parece quase morrer para renascer.

  • Solstícios de verão: o dia mais longo, o auge da luz e do calor.

  • Equinócios: equilíbrio entre dia e noite, passagem, transição.

Cada cultura criou rituais para isso.
Não era “religião” no sentido institucional — era Corpo Território sentindo o cosmos: frio, calor, sombra, amanhecer, cheiro de chuva, maturação de frutos.
Quando o cristianismo se expandiu, ele não apagou esses rituais; ele se encaixou neles.
No hemisfério norte, o Natal ocupou o lugar das festas de inverno: luz em meio à noite, esperança em meio ao frio.
O problema começa quando esse calendário do inverno europeu é imposto como universal — inclusive em lugares onde o corpo está vivendo verão, chuva, frutos, praia, suor.
No hemisfério sul, especialmente na América Latina, o corpo está dizendo outra coisa:
“Estou em tempo de expansão, de calor, de tempo longo, de verão.”
Mas as imagens, os cantos, os símbolos e a teologia repetem:
“Imagine frio, neve, renas, pinheiros cobertos de gelo.”
Esse desencontro entre corpo e narrativa é um pequeno laboratório de colonização:
  • colonização do tempo;

  • colonização da estação;

  • colonização da sensação.




Quando a fé é chamada a não sentir

A fé não é o problema.
O problema é quando a fé é treinada para ser cega ao corpo e surda à experiência local.
Na Mente Damasiana, consciência nasce do diálogo entre interocepção (sentir por dentro) e propriocepção (sentir o corpo no espaço).
Quando me pedem para viver um Natal de inverno num verão de 35 graus, estão me pedindo, sem dizer, para:
  • desautorizar minha interocepção,

  • deslegitimar meu Corpo Território,

  • confiar mais na imagem importada do que na experiência direta.

Isso é um pedaço da Zona 3:
quando narrativas, ideologias e mercados sequestram o sentir, e eu passo a duvidar de mim mesmo.
A fé cega não nasce do Evangelho em si; ela nasce da combinação:
  • teologia que não aceita perguntas,

  • colonização que se coloca como “verdade única”,

  • mercado que se aproveita do vazio para vender sentido em forma de presente, ceia e decoração.




Natal, lucro e clima: quando o presépio entra no shopping

Se eu olho o Natal com Taá, vejo também:
  • estímulo ao consumo excessivo,

  • pressão para comprar presentes que ninguém precisa,

  • comida em excesso, descartáveis, luzes acesas por semanas,

  • transporte, produção e descarte acelerados num curto espaço de tempo.

Tudo isso tem custo energético e climático.
A festa do “nascimento do Menino” vem sendo usada como motor de:
  • lucro,

  • acúmulo,

  • comparação social,

  • exclusão de quem não pode consumir.

De um ponto de vista de DANA — a inteligência do DNA que só quer manter a vida com o mínimo de sofrimento possível — isso é um absurdo:
  • sacrifício de florestas, rios, clima,

  • explosão de consumo num planeta já exausto,

  • em nome de uma celebração que, no discurso, fala de humildade, simplicidade, manjedoura.

A contradição é tão grande que o corpo sente;
mas a Zona 3 nos treina para não ouvir esse incômodo.


O Sentir e Saber Taá — abrindo a fresta de descolonização do Natal

Também percebo que até meu modo de celebrar foi colonizado.
Que o calendário que uso para marcar o sagrado foi moldado para me afastar do céu real que está sobre a minha cabeça: reduzir meu corpo a consumidor, minha mente a agenda de final de ano, minha espiritualidade a campanha de varejo e minha política a saldo de cartão de crédito.
É por isso que tantas comunidades cristãs têm dificuldade de perguntar:
“Faz sentido celebrar um inverno europeu no nosso verão latino?”
“Faz sentido transformar o nascimento de um mestre da simplicidade numa corrida de compras?”
Mas quando eu sinto meu corpo antes de pensar — quando Taá se manifesta — percebo que não existe separação entre Neurociência, Política e Espiritualidade (Utupe, Xapiri, memória viva).
Meu corpo me diz que a noite de verão pede outro tipo de ritual, outra intensidade, outro ritmo.
O que coloniza não é só a história:
é o calendário, a propaganda, o símbolo que não conversa com o chão que eu piso.
Cada vez que eu tenho coragem de escutar esse estranhamento e perguntar “por quê?”, uma fresta se abre na Zona 3 e meu corpo volta a ser o que sempre foi: território vivo de mundos possíveis, inclusive de um Natal menos destrutivo e mais coerente com a vida.


E se o Natal fosse refeito pela Mente Damasiana?

Não se trata de “acabar com o Natal”,
mas de perguntar:
  • Como seria um Natal que respeita o verão latino?

  • Como seria um Natal que reduz consumo e aumenta cuidado?

  • Como seria um Natal onde Jesus, se estivesse aqui, não serviria de garoto-propaganda para eletrodoméstico, mas de inspiração para redistribuir, acolher, diminuir dano climático?

Podemos imaginar:
  • ceias menores e mais simples,

  • presentes que não passem por shopping (gestos, tempo junto, algo feito à mão),

  • rituais que incluam o corpo: caminhar ao ar livre, sentir o vento da noite quente, olhar o céu, agradecer pela Terra,

  • comunidades que usem esse momento para pensar justiça social, crise climática, cuidado com os mais vulneráveis.

Isso é Zona 2 natalina:
não é a rigidez da Zona 3, nem o automatismo da Zona 1.
É o espaço onde posso sentir, pensar, crer e agir com coerência.


Não é contra a fé — é a favor de uma fé que sente

O que proponho não é abandonar o Cristo,
mas deixar que ele saia do shopping e volte a caminhar descalço na poeira do nosso chão latino.
Uma fé que sente:
  • reconhece a violência de impor inverno ao corpo em verão;

  • reconhece o absurdo de associar nascimento santo a consumo desenfreado;

  • reconhece que o planeta está em emergência e que nossas festas também precisam se converter.

Se eu deixo o Taá me guiar, a pergunta muda:
não é mais “posso comemorar o Natal?”, mas:
“Que tipo de Natal o meu corpo, a minha comunidade e o planeta conseguem sustentar sem adoecer?”
Quando essa pergunta brota de dentro, a metacognição desperta suavemente.
Não como acusação, mas como convite.
E talvez esse seja o milagre possível do nosso tempo:
um Natal em que, finalmente, o corpo latino também nasce — com direito a sentir, pensar e celebrar do seu próprio jeito, sem medo de desagradar a quem se acostumou a mandar até nas nossas estações do ano.



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