Jackson Cionek
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Multiplicação dialógica e psicologia indígena - Como deixar a psicologia ouvir sem apagar o outro

Multiplicação dialógica e psicologia indígena - Como deixar a psicologia ouvir sem apagar o outro

(Consciência em Primeira Pessoa • Neurociência Decolonial • Brain Bee • O Sentir e Saber Taá)

O Sentir e Saber Taá — abrindo a fresta de descolonização

Eu cresci ouvindo que a Psicologia “explica” as pessoas.
Que o especialista sabe mais sobre mim do que eu mesmo.
Que povos indígenas são “objetos de estudo”, não autores de teoria.

Quando começo a sentir isso no corpo, percebo um incômodo:
meu peito aperta quando alguém descreve um povo inteiro como “caso clínico” ou “amostra”.
Minha respiração muda quando leio pesquisas que falam sobre indígenas,
mas quase nunca com eles, e muito menos a partir deles.

Também percebo que até minhas palavras foram colonizadas.
O idioma que uso para pensar o mundo foi moldado para me reduzir:
reduzir meu corpo a máquina defeituosa,
minha mente a déficit,
minha espiritualidade a superstição,
minha política a consumo e produtividade.

É assim que tanta gente na Psicologia evita fazer perguntas que poderiam revelar o que a ciência colonial não sabe nomear.
Mas quando eu sinto meu corpo antes de pensar — quando Taá se manifesta — percebo que não existe separação entre Neurociência, Política e Espiritualidade (Utupe, Xapiri, memória viva).
O que coloniza não é só a história: é a palavra que nos impede de existir inteiros.

Cada vez que eu leio Danilo Silva Guimarães em Dialogical Multiplication Principles for an Indigenous Psychology, sinto exatamente isso:
uma fresta se abrindo.
A psicologia deixa de ser uma lente que enquadra o indígena como “objeto exótico”
e passa a ser um lugar de encontro, confronto e multiplicação de vozes.


O que o livro pergunta: quem fala por quem na psicologia?

Eu leio esse livro como uma pergunta forte colocada no meu peito:

É possível fazer Psicologia sem repetir a colonização dentro da própria teoria?

Guimarães parte de uma constatação incômoda:
grande parte da psicologia que estudamos é WEIRD
feita com sujeitos Western, Educated, Industrialized, Rich, Democratic
e depois aplicada como se fosse “universal”.

A psicologia indígena que ele propõe não é uma “sub-área exótica”,
mas uma reconfiguração profunda:

  • quem fala,

  • de onde fala,

  • com quem fala,

  • e o que é considerado “dado” e o que é considerado “ruído”.

Em vez de reduzir povos originários a “casos”,
ele pergunta:

E se a própria teoria psicológica passar a nascer do diálogo com esses povos?
E se a pesquisa não for coleta de dados, mas encontro de mundos?


Métodos: multiplicação dialógica em vez de coleta extrativa

O livro não apresenta um “protocolo” rígido,
mas um modo de estar em campo que ecoa muito o que Marcus Maia descreve como bricolagem com povos Karajá e Javaé.

Alguns eixos que eu sinto no corpo ao ler:

  • Encontro dialogal
    O pesquisador não chega com o experimento pronto,
    mas com abertura para transformar suas próprias perguntas
    a partir do que escuta e vive com a comunidade.

  • Multiplicação de perspectivas
    Em vez de uma teoria que “explica tudo”,
    o autor fala de multiplicação dialógica:
    deixar que várias vozes — indígenas, acadêmicas, espirituais, políticas —
    coexistam e tensionem umas às outras.

  • Coautoria e metacognição
    Pessoas indígenas deixam de ser “participantes” passivos e tornam-se
    co-pensadoras do problema, co-autoras da reflexão,
    produzindo meta-comentários sobre a própria experiência.

  • Psicologia como prática situada
    Método, aqui, não é só estatística ou protocolo:
    é a forma como eu chego, escuto, me deixo afetar e devolvo algo à comunidade.

É uma metodologia que conversa com nossos avatares referência.
Quando me posiciono no avatar Olmeca, vejo isso como:

um modo de olhar o fenômeno psicológico através da cultura viva
rituais, narrativas, cosmologias —
sem tentar encaixar tudo em categorias europeias pré-definidas.

Quando trago o avatar DANA, sinto o livro como um chamado
para reconhecer a inteligência do DNA coletivo:
a forma como um povo regula seu modo de existir, sentir e cuidar da mente
ao longo de gerações.


Resultados: Psicologia que multiplica, não reduz

O efeito dessa abordagem é profundo:

  • A pessoa indígena deixa de ser “informante” e passa a ser parceiro epistêmico.

  • A pesquisa deixa de buscar “leis gerais do psiquismo”
    e passa a acolher modos distintos de ser mente.

  • Conflitos, mal-entendidos, diferenças de vocabulário
    deixam de ser “ruído” e se tornam material de pensamento.

Na prática, isso significa:

  • novas categorias para falar de sofrimento, cura, relação, corpo, sonho;

  • possibilidade de repensar noções como “indivíduo”, “trauma”, “doença mental”
    a partir de cosmologias ameríndias;

  • abertura para que espiritualidade não seja tratada como delírio,
    mas como dimensão legítima da experiência (Utupe, Xapiri, Pei Utupe).


Lendo com nossos conceitos

Mente Damasiana, Jiwasa e Quorum Sensing Humano

Quando leio Guimarães, sinto a Mente Damasiana sendo estendida para o plano coletivo:

  • não é só um corpo que sente,

  • é um nós que sente — um Jiwasa psicológico.

A psicologia indígena proposta ali é, de certo modo,
uma psicologia do Quorum Sensing Humano:
como corpos, vozes, espíritos e memórias
se regulam mutuamente em aldeias, cidades, rios, territórios.

Zona 1 / Zona 2 / Zona 3

  • Zona 3 é a psicologia colonizada,
    que aplica escalas e testes sem perguntar se fazem sentido naquele mundo.

  • Zona 1 é a aplicação automática de protocolos:
    diagnóstico rápido, classificação, manual.

  • Zona 2 aparece quando o pesquisador aceita se desestabilizar,
    escutar sem saber antes,
    deixar a própria teoria ser afetada pelo encontro.

Guimarães está nos levando, o tempo todo, para essa Zona 2 de encontro.
É ali que a Psicologia se torna mais do que ferramenta de controle:
vira espaço de criação conjunta.

Avatares Referências

Se eu escolho um recorte para ver esse livro,
sinto que ele conversa especialmente com:

  • Avatar Olmeca – olhar cultural, simbólico, histórico da experiência;

  • Avatar Yagé – estados ampliados de consciência, sonho, visão, ritual;

  • Avatar DANA – inteligência do DNA coletivo organizando práticas de cuidado.

Esses avatares nos lembram que não existe um só ponto de vista legítimo.
A psicologia se torna um campo de múltiplas janelas sobre o mesmo território vivo.


Onde a ciência ajusta nossas ideias

Antes, eu poderia acreditar que:

  • psicologia com evidência = psicologia com estatística;

  • espiritualidade = viés, erro, superstição;

  • povos indígenas = “amostras especiais” a serem comparadas à norma WEIRD.

Depois de caminhar com esse livro, percebo que:

  • evidência também inclui narrativas, rituais, memórias,
    desde que trabalhadas com rigor dialogal;

  • espiritualidade é uma dimensão estruturante da experiência,
    não um ruído a ser filtrado;

  • não existe “padrão humano universal” medido a partir de laboratórios ocidentais.

A ciência com evidência, aqui, não é abandonada.
Ela é deslocada:

do “olhar de cima” para o “olhar com”.


Implicações para educação, saúde e política na América Latina

  • Formação em Psicologia
    Currículos precisam incorporar psicologia indígena não como curiosidade,
    mas como eixo central para pensar o humano em territórios plurais.

  • Políticas de saúde mental
    Programas de cuidado em aldeias e periferias urbanas
    devem incluir práticas locais de cura, escuta e ritual
    como parte legítima do sistema, não como apêndice folclórico.

  • Pesquisa e financiamento
    Agências precisam apoiar projetos em que povos indígenas sejam
    co-autores, co-pensadores, co-decisores sobre metodologia e uso de dados.

  • Constituições e leis LATAM
    Uma psicologia realmente indígena pode alimentar
    novas formas de pensar direitos coletivos, território,
    espiritualidade e saúde mental como dimensões inseparáveis.


Palavras-chave para busca científica

“Danilo Silva Guimarães dialogical multiplication indigenous psychology Brazil non-WEIRD decolonial psychology experimental fieldwork”

Se quisermos uma Psicologia para a América Latina e não apenas na América Latina,
precisamos aprender a multiplicar vozes, mundos e corpos —
até que a ciência deixe de falar sobre nós
e passe, finalmente, a falar conosco e a partir de nós.



Quando dois Cérebros Recebem o Mesmo Mundo - Cooperação, sincronia e o ritmo compartilhado da atenção

Embodied Singing - Voz, interocepção e Corpo Território na expertise vocal

Cheiros Agradáveis e Modulação da Respiração -Quando o olfato organiza o acoplamento cérebro–corpo

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Como meu Cérebro Codifica a Voz na Meia-Idade - A F0, o esforço auditivo e a vitalidade do ouvir humano

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Reprodutibilidade em fNIRS - Quando posso confiar na curva hemodinâmica que vejo?

HRfunc e a Verdadeira Forma da Resposta Hemodinâmica - Por que cada cérebro respira luz de um jeito diferente

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Comprometimento Cognitivo Leve - Sinais precoces na hemodinâmica e na presença no mundo

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Jiwasa Linguístico - Quando a Lngua Pensa o Mundo

Multiplicação dialógica e psicologia indígena - Como deixar a psicologia ouvir sem apagar o outro

BrainLatam Decolonial
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New perspectives in translational control: from neurodegenerative diseases to glioblastoma | Brain States