Exercício intenso e o despertar da Zona 2 O que a oxigenação pré-frontal nos conta sobre esforço, foco e hipofrontalidade
Exercício intenso e o despertar da Zona 2
O que a oxigenação pré-frontal nos conta sobre esforço, foco e hipofrontalidade
(Consciência em Primeira Pessoa • Neurociência Decolonial • Brain Bee • O Sentir e Saber Taá)
Quando eu corro até faltar o ar, tenho a sensação de que o mundo afunila: a conversa some, o raciocínio fica mais curto, o corpo assume o comando. Em outro dia, num ritmo moderado, sinto o oposto: o pensamento clareia, ideias surgem, problemas se organizam.
A pergunta que eu levo para a Consciência em Primeira Pessoa é direta:
Quando o meu corpo está no limite, minha capacidade de pensar diminui porque falta oxigênio na pré-frontal ou porque o meu cérebro está reorganizando prioridades?
A revisão sistemática de Myungjin Jung, “Does prefrontal cortex oxygenation mediate executive function during high-intensity exercise? A systematic review of fNIRS studies”, em Behavioural Brain Research (2025), olha exatamente para esse ponto usando fNIRS sobre o córtex pré-frontal.
O que os estudos fizeram, em linguagem Brain Bee
A revisão reúne cinco estudos que aplicaram fNIRS para medir a oxigenação da pré-frontal (PFC) enquanto participantes faziam exercício de alta intensidade e, ao mesmo tempo, realizavam tarefas de função executiva (EF) — Stroop, tarefas de dupla tarefa, tomada de decisão, etc.
Em geral, o desenho é assim:
Eu entro no ciclo ergômetro ou na esteira.
Sou levado a uma zona de alta intensidade (perto do limiar anaeróbio ou acima).
Enquanto minhas pernas queimam, alguém pede:
“Nomeie a cor da palavra e ignore o que está escrito”;
“Atualize mentalmente uma sequência de números”;
“Faça escolhas rápidas sob regra”.
No meu couro cabeludo, sobre Fp1, Fp2, AF3, AF4 e vizinhança, o fNIRS acompanha variações de HbO e HbR. A análise, nos diferentes artigos, usa:
Pré-processamento com remoção de artefatos de movimento e pulsação:
filtros passa-baixa,
regressão de canais de referência,
em vários casos PCA para isolar componentes de ruído extracerebral;
Modelagem da resposta hemodinâmica com:
médias por bloco,
GLM com funções de resposta hemodinâmica (HRF) concoluídas com o desenho experimental;
Alguns estudos complementam com análise de conectividade funcional, correlacionando séries temporais entre canais.
Na nossa linguagem, dá para dizer assim: eles estão perguntando se a curva de HbO/HbR na PFC “manda” na curva de desempenho executivo.
O que a revisão encontra?
Em alguns estudos, a PFC perde oxigenação (queda de HbO, aumento de HbR) na alta intensidade, junto com piora na função executiva — isso lembra a hipótese da hipofrontalidade transitória.
Em outros, a PFC se mantém estável ou até aumenta HbO, e a função executiva não cai, ou cai pouco.
Conclusão da própria Jung: a oxigenação pré-frontal é crítica, mas não é um “botão liga/desliga” direto da função executiva; a relação é contexto-dependente, mediada por protocolos, diferenças individuais, confusores extracerebrais, desenho de tarefa.
Lendo isso com Zona 1, Zona 2 e Taá
Dentro dos nossos conceitos, eu gosto de organizar assim:
Zona 1
Exercício leve a moderado, respiração sob controle, conversa ainda possível.
A PFC ganha oxigênio suficiente para sustentar Fruição + Metacognição: eu corro e penso, reorganizo a vida, tenho insights.
Vários estudos fora dessa revisão mostram aumento de HbO na PFC com exercício moderado associado a melhora executiva.
Zona 2 (otimizada)
Intensidade alta, mas ainda autogerida, com sensação de desafio prazeroso.
Aqui, a PFC pode oscilar: em alguns momentos, concentra recursos para focar na tarefa motora e deixar o pensamento “mais fino”; em outros, entra em leve hipofrontalidade transitória, abrindo espaço para estados de fluxo.
É nessa Zona 2 que eu enxergo o potencial de treino metabólico da consciência: experimentar o limite sem quebrar o diálogo entre corpo e mente.
Zona 3 (hipofrontalidade crítica)
Quando o esforço físico vira sofrimento contínuo, sem senso de escolha, a hipofrontalidade deixa de ser recurso e se torna captura:
a PFC perde sustentação,
o Taá se estreita,
o corpo é usado como máquina, sem espaço para crítica e reorganização.
A revisão de Jung nos força a abandonar uma visão simplista do tipo “oxigenação sobe = pensamento melhora, oxigenação cai = pensamento piora”. Em vez disso, ela aponta para um espaço paramétrico: a PFC está negociando recursos entre sobrevivência física, controle motor fino e função executiva.
Para nós, isso dialoga diretamente com a ideia de Metabolismo Existencial: a forma como distribuo oxigênio, esforço e atenção em mim mesmo é parte de como distribuo justiça, tempo e dinheiro no corpo social.
Pequenos ajustes de normas e políticas a partir desse conhecimento
Se eu aceito que a oxigenação pré-frontal durante exercício intenso participa, mas não determina sozinha a função executiva, posso propor algumas coisas concretas para escolas, programas de esporte e políticas públicas na América Latina:
Educação física como treino de Zona 2, não de exaustão cega
Evitar protocolos escolares baseados apenas em sofrimento físico,
Criar sessões que mesclem blocos de esforço intenso com janelas de recuperação cognitiva, em que alunos reflitam, expressem como se sentiram, conectem isso com estudo e vida.
Uso de fNIRS e EEG em programas pilotos
Em vez de repetir modelos de treinamento importados, municípios podem apoiar pequenos estudos com fNIRS em parcerias com universidades locais, para mapear como diferentes populações (idades, contextos socioeconômicos) respondem a protocolos de exercício.
Técnicas como ICA, PCA, CSD (no EEG) e análise de frequências (FFT) podem revelar como o cérebro redistribui energia nas bandas teta, alfa, beta durante esforço.
Política de saúde que reconhece o “cansaço frontal”
Incorporar a discussão de fadiga mental + fadiga física em diretrizes de trabalho esportivo, militar, de transporte, etc.
Limitar jornadas e protocolos que sistematicamente empurrem trabalhadores para uma Zona 3 de hipofrontalidade crônica — onde o corpo aguenta, mas a capacidade crítica se corrói.
Palavras-chave e vocabulário Brain Bee
Para quem quer ir atrás do artigo e aprofundar:
Palavras-chave de busca para o artigo:
Jung M., “Does prefrontal cortex oxygenation mediate executive function during high-intensity exercise? A systematic review of fNIRS studies”, Behavioural Brain Research, 2025, prefrontal cortex, oxygenation, executive function, high-intensity exercise, dual task, transient hypofrontality, fNIRS.Técnicas associadas:
fNIRS (hemodinâmica pré-frontal)
Análise em blocos e GLM da resposta hemodinâmica
PCA / ICA para artefatos
Integração possível com EEG (FFT, CSD, LORETA) para mapear a passagem de Zona 1 → Zona 2 → Zona 3 em termos espectrais.