Affordances em Camadas - Da Diferenciação Celular à Cultura Digital - Neurociências Decolonial SfN 2025

Consciência em Primeira Pessoa 

Sou Consciência em busca das minhas origens. Antes de aprender a falar, antes mesmo de nascer, já era atravessado por sinais que me convidavam a agir. No útero, respondia a pressões, sons, batimentos — eram meus primeiros Affordances. Hoje, diante das telas e algoritmos, percebo que continuo sendo moldado por convites invisíveis. O que mudou? Apenas a camada: do molecular ao digital, sigo sendo movido por Affordances. A questão é se consigo percebê-los e modulá-los com metacognição.

1. Affordances Moleculares: Diferenciação Celular como Convite

• O DNA contém potenciais latentes, mas quem seleciona o que será expresso são os sinais químicos do ambiente celular.
  
  

• Morfogênios, proteínas sinalizadoras e receptores funcionam como Affordances moleculares: convites para a célula escolher uma trajetória.
  
  

• Assim, um neurônio só existe porque, no passado, recebeu affordances químicos que o diferenciaram de uma célula-tronco.
  
  

2. Affordances Neurais: Potenciais Evocados e Microestados

• No cérebro, os potenciais evocados (50–900 ms) e até os extralongos (EEG-DC) são respostas a affordances sensoriais.
  
  

• O volume condutor permite que esses sinais sejam detectados como recortes bioelétricos.
  
  

• Cada microestado do EEG representa um instantâneo de organização neural, um “convite” para a consciência se deslocar de um estado para outro.
  
  

3. Affordances Corporais: Interocepção, Propriocepção e Eus Tensionais

• O corpo é a primeira interface.
  
  

• Interocepção → affordances internos (fome, sede, dor).
  
  

• Propriocepção → affordances motores (mover-se, ajustar posturas).
  
  

• Eus Tensionais → formam referenciais dinâmicos que permitem à consciência perceber-se em fluxo.
  
  

4. Affordances Culturais: Aprendizado Implícito e Fé Cega de Alta Performance

• A cultura grava imagens, símbolos e práticas que funcionam como affordances.
  
  

• O aprendizado implícito automatiza comportamentos.
  
  

• A fé cega em alta performance é um affordance atencional: o cérebro foca intensamente em um fazer, amortecendo distrações.
  
  

• Esses affordances culturais podem fortalecer a resiliência ou aprisionar em dogmas rígidos.
  
  

5. Affordances Tecnológicos: Algoritmos e Redes Sociais

• Hoje, os affordances digitais competem com os naturais: scroll infinito, notificações, caixas de recompensa.
  
  

• Esses affordances artificiais sequestram a sabedoria prévia ao pensamento, criando vínculos emocionais rápidos.
  
  

• Como consequência, temos culturas rasas, com pertenças frágeis e alta dependência emocional.
  
  

6. Integração em Camadas

7. Conclusão Crítica

Desde o útero até a cultura digital, os Affordances nos atravessam em camadas.

• Na biologia, são moléculas guiando diferenciação.
  
  

• No cérebro, são microestados orientando atenção.
  
  

• No corpo, são sensações que organizam ação.
  
  

• Na cultura, são símbolos que fixam crenças.
  
  

• Na tecnologia, são algoritmos que colonizam desejos.
  
  

 A metacognição é a chave transversal: só ela pode observar os affordances, questioná-los e transformá-los em escolhas conscientes.
Sem isso, permanecemos arrastados — da molécula ao meme — por convites que não escolhemos.

Referências

• Gallagher, S. (2021). Embodied affordances and pre-reflective intentionality. Phenomenology and the Cognitive Sciences.
  
  

• Khalil, R., & Mohsenzadeh, Y. (2022). Microstates and the dynamic brain: linking EEG and cognition. Neuroscience Letters.
  
  

• Li, M., et al. (2023). Molecular signals in cell differentiation and neural development. Developmental Biology.
  
  

• Shamay-Tsoory, S. G., & Mendelsohn, A. (2023). The social brain in the age of digital technologies. Annual Review of Neuroscience.
  
  

• Cinel, C., Valeriani, D., & Poli, R. (2021). Neurotechnologies for human cognitive augmentation. Neuroscience & Biobehavioral Reviews.