Jackson Cionek
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EEG Microstates, Anergia e a Reconfiguração do Conectoma - A Dinâmica dos Eus Tensionais no Cérebro Vivo

EEG Microstates, Anergia e a Reconfiguração do Conectoma - A Dinâmica dos Eus Tensionais no Cérebro Vivo


O cérebro humano, como sistema biológico e informacional, opera dentro de princípios da física dos sistemas complexos: é dinâmico, auto-organizado, metastável e sujeito a flutuações. Nessa perspectiva, a consciência não emerge de uma região isolada, mas sim da coreografia temporal de redes neuronais integradas que se acendem, reconfiguram e dissipam constantemente.


Um dos instrumentos mais promissores para observar esses padrões dinâmicos em tempo real é o EEG, especialmente através da análise de microstates.


Microstates: a linguagem elétrica da cognição


Os EEG microstates são padrões breves de estabilidade elétrica no córtex, com duração média de 60 a 120 milissegundos. Cada microstate corresponde à ativação coordenada de um conjunto de redes neurais, formando uma espécie de fotograma funcional do cérebro em atividade.


Eles são considerados “átomos do pensamento”, pois compõem sequências ordenadas que sustentam imagens mentais, percepções, emoções e decisões. No entanto, um microstate isolado não constitui um “eu tensional”: é preciso um ciclo coerente e funcional, acoplado ao corpo e ao ambiente, para que um estado de ser — um eu posicionado — se manifeste.


Sistemas complexos, entropia e o surgimento da anergia


Em sistemas fora do equilíbrio, como o cérebro, a atividade neural é sustentada por energia metabólica (glicose, oxigênio, ATP). A cada ciclo perceptivo ou emocional, essa energia é mobilizada com o objetivo de gerar:


* uma percepção estável,

* uma decisão corporal,

* uma ação,

* ou uma fruição do sentir.


Contudo, quando esse ciclo não se completa — seja por repressão, contexto adverso ou excesso de estímulo —, parte da energia mobilizada não é convertida em trabalho útil.

Essa diferença entre a energia ativada e a energia usada é o que podemos chamar aqui de anergia neurofuncional.


Anergia, nesse contexto, é energia cerebral que foi mobilizada, mas não metabolizada: ela não virou fala, não virou gesto, não virou consciência clara. Ela permanece como tensão residual, pulsando nos circuitos como um convite à reorganização.


Do excesso de anergia à reconfiguração do conectoma


Essa tensão residual — produto da não fruição — altera os estados dinâmicos da rede cerebral, criando zonas de ineficiência funcional.

O cérebro, como sistema adaptativo, responde a isso com tentativas de reorganização do conectoma funcional:


* novas conexões são testadas,

* sinapses são reforçadas ou enfraquecidas,

* microstates mudam de frequência, duração ou sequência.


Essa reorganização não é aleatória: ela visa restaurar o equilíbrio energético e funcional, permitindo que a energia volte a ser metabolizada de forma eficiente e integrada.


Michel & Koenig (2018) e Friston (2010) sugerem que o cérebro trabalha para minimizar a energia livre não resolvida, o que coincide com a noção de anergia como uma força reorganizadora.


Eus tensionais, fruição e corpo-território


O “eu tensional” é a emergência de um estado de ser integrado, que posiciona o corpo diante do mundo com intenção, afeto e percepção. Ele nasce da convergência entre:


* interocepção (sinais internos),

* propriocepção (posição e movimento do corpo),

* e as ativações perceptivas e afetivas.


Quando os ciclos de microstates são consistentes, bem regulados e culminam em ação ou expressão, surgem eus fruidores: estados de ser que metabolizam completamente a energia mobilizada, criando prazer, clareza, pertencimento.


Mas quando os microstates ficam aprisionados em ciclos incompletos — por repressão emocional, excesso de estímulo ou contexto opressivo —, surgem os eus anérgicos: tensos, incompletos, rodando sem fruição, demandando mudança.


Diagnóstico funcional 


Observar a frequência e duração de certos microstates (ex: tipo C e D, ligados à rede default e autorreferência) pode indicar:


* estados de ruminação ou aprisionamento atencional,

* excesso de energia não metabolizada (anergia emocional),

* necessidade de reorganização comportamental ou afetiva.


A prática neuroeducacional pode atuar como facilitadora da reconfiguração natural do conectoma, quando promove:


* expressão afetiva e movimento corporal (dança, arte, fala espontânea),

* estados de fruição prolongada (respiração, atenção sensorial plena),

* quebra de loops microstate > tensional > anérgico.


Conclusão


 O cérebro, em sua dança elétrica, busca sobreviver, sentir e expressar com eficiência.

 Os microstates são os passos; os “eus tensionais”, os gestos; e a fruição, a dança completa.

 Quando a música para no meio, sobra energia não metabolizada — anergia — que pulsa como desconforto, tensão, ou estagnação.

 É nesse espaço de excesso que nasce o convite à mudança: a reconfiguração do conectoma como resposta à energia que quer ser vivida.

 
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Jackson Cionek

New perspectives in translational control: from neurodegenerative diseases to glioblastoma | Brain States