Bases Neurobiológicas e Filosóficas para uma Nova Psicologia Pós-Republicana

Bases Neurobiológicas e Filosóficas para uma Nova Psicologia Pós-Republicana

Nova Psicologia Pós-Republicana

Resumo:

A psicologia moderna foi historicamente moldada para atender às necessidades do Estado Republicano, com ênfase na adaptação do indivíduo às normas sociais e produtivas. No entanto, novas descobertas neurocientíficas e abordagens filosóficas oferecem uma oportunidade para reestruturar seus fundamentos. Este artigo propõe uma nova base para a psicologia ancorada em ciência com evidência, incorporando a Mente Damasiana, o Monismo de Triplo Aspecto, o Pertencimento como Quorum Sensing Humano, os sentimentos como gradações da Depressão Cortical Propagada, e a consciência como movimento metabólico perceptível. Esta abordagem visa reorientar a psicologia para o cuidado integral, coletivo e científico das subjetividades humanas.

1. Crítica Epistemológica à Psicologia Tradicional

A psicologia clássica, surgida no seio do Estado Republicano, focou-se na adaptação do "Homem Social" a estruturas normativas. Inspirada em correntes filosóficas dualistas e cartesiano-freudianas, buscou tratar um "eu" abstrato, inexistente do ponto de vista biológico. A prática terapêutica passou a reforçar a adequação do paciente às pressões do sistema educacional competitivo e à função produtiva, sem considerar as causas estruturais dos sofrimentos psíquicos (Vidal & Ortega, 2021).

2. A Virada Neurocientífica: Da Subjetividade ao Corpo

Com A.R. Luria e os avanços nas neurociências cognitivas, observou-se uma reorientação para a observação empírica do cérebro em funcionamento. Conceitos como memória de trabalho, funções executivas e neuroplasticidade passaram a guiar abordagens mais situadas no corpo e na experiência do paciente (Friedman & Robbins, 2022).

Contudo, a neurociência contemporânea avança além disso, incorporando modelos como a Mente Damasiana, que entende a consciência como interações entre interocepção e propriocepção que emergem da corporeidade (Damasio, 2021).

3. O Monismo Triplo Aspecto e a Unificação da Experiência

A proposta do Monismo de Triplo Aspecto (Pereira Jr., 2022) permite integrar dimensões subjetivas, biológicas e físicas da experiência sem reducionismo. Tal estrutura filosófica oferece um fundamento sólido para compreender a psicologia como ciência sistêmica, conectada ao metabolismo cerebral e às experiências vividas, e não mais como ajuste de um "indivíduo" a normas arbitrárias.

4. Pertencimento como Quorum Sensing Humano

A noção de Quorum Sensing Humano (Cionek, 2024) define o pertencimento como resposta biológica e cultural à troca de sinais químicos, olfativos e afetivos entre corpos em presença. A perda dessa troca, como demonstrado por estudos pós-pandemia, gera neuroinflamação (IL-6, TNF-α) e sentimentos de exclusão social (Miller et al., 2021). Assim, as emoções devem ser compreendidas não como estados mentais isolados, mas como ecologias intercorpóreas.

5. Sentimentos como Graduação da Depressão Cortical Propagada (CSD)

A hipótese aqui defendida é que sentimentos são uma graduação da Depressão Cortical Propagada (CSD), fenômeno eletrometabólico que pode ser medido por EEG-DC e NIRS (Takizawa et al., 2023). Esses sentimentos modulam o conectoma cerebral, organizando padrões que podem ser metaforicamente agrupados em "Pedra, Papel e Tesoura" — simbolizando diferentes estratégias adaptativas emocionais e cognitivas.

6. Consciência como Movimento Metabólico Autoperceptivo

A consciência é aqui definida como um movimento que se percebe ser no metabolismo produzido, sustentada por sinapses, ATP, fluxo sanguíneo e interações microtubulares (Hameroff & Penrose, 2021). Essa visão resgata a conexão original entre vida e percepção, dando base objetiva à subjetividade.

7. Democracia e Alternância: Lições dos Sistemas Vivos

A psicologia precisa incorporar princípios de sistemas complexos. Bandos de pássaros, por exemplo, revezam suas lideranças para garantir o desempenho coletivo (Portugal et al., 2014). Quando o humano é forçado a manter papéis que seu corpo rejeita, surge o sofrimento psíquico. A alternância de posições sociais é, portanto, um antídoto natural contra a alienação e o burnout.

Conclusão: Para uma Psicologia da Vida Viva

A psicologia do futuro deve abandonar o ideal adaptacionista e assumir um compromisso com a regeneração dos vínculos, do pertencimento e da consciência encarnada. Isso exige uma integração radical entre neurociência contemporânea, epistemologias decoloniais e uma ética centrada na vida viva.

Referências:

Damasio, A. (2021). Feeling & Knowing: Making Minds Conscious. Pantheon.

Friedman, D., & Robbins, T. W. (2022). Cognitive neuroscience: The rediscovery of functional anatomy. Nature Reviews Neuroscience.

Hameroff, S., & Penrose, R. (2021). Consciousness in the universe: A review of the ‘Orch OR’ theory. Physics of Life Reviews.

Miller, G. E., et al. (2021). Cytokine signaling and social disconnection. Nature Neuroscience.

Pereira Jr., A. (2022). Triple-Aspect Monism: Philosophical Foundations of a Holistic Neuroscience. Springer.

Portugal, S. J., et al. (2014). Upwash exploitation and downwash avoidance by flap phasing in ibis formation flight. Nature.

Takizawa, R., et al. (2023). Functional near-infrared spectroscopy in psychiatry: Biomarkers and clinical application. Journal of Psychiatric Research.

Vidal, F., & Ortega, F. (2021). The science of the self in global perspective. Routledge.

Cionek, J. (2024). Pertencimento e Neurodemocracia. Manuscrito em circulação - essa foi uma inseção do GTP devido às minhas postagens.

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