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O Neurofeminismo é a junção de duas áreas, Ciência e feminismo, em defesa de uma discussão dos resultados de estudos científicos mais igualitária, que vem a ser como uma estratégia de solução para minimizar as diferenças existentes no nosso meio científico. Neste blog, em específico, vamos entrar mais na perspectiva feminista aplicada a crítica nos estudos contemporâneos sobre o cérebro. Abaixo temos a capa do site do The Neurogenderings Network, que já trouxe, também, em discussão no Neurociescegrrl e se trata de uma rede que representa todo o conceito de ciência e feminismo, atuando na garantia da execução do Neurofeminismo.
Capa do site da Neurogenderings. Fonte: <https://neurogenderings.wordpress.com/>.
Então o que é o Neurofeminismo? Se refere a um movimento de crítica feminista dentro da Neurociência, que critica o dualismo e a noção de dimorfismo sexual e discutir como fatos neurocientíficos sobre sexo e gênero são produzidos, chamando atenção para o contexto histórico, cultural e político e para as consequências éticas desses estudos.
As Neurofeministas buscam a igualdade de gênero no âmbito da pesquisa científica, mesmo que possam haver diferenças estruturais nos cérebros de homens e mulheres e que essas possam ser divulgadas para conhecimento pela sociedade, como uma justificativa biológica, fora de vieses de uma sociedade machista. Assim, em busca da defesa de que as mulheres devem estar conscientes sobre os seus direitos/deveres, inclusive na ciência; as Neurofeministas combatem estereótipos de gênero presentes em pesquisas científicas que usem de alguma justificativa biológica como uma vantagem ou desvantagem sexista.
Além disso, também, defendem que as mulheres tem estar conscientes sobre o Feminismo, serem críticas e que, além de feministas, sejam cientistas eque assim, façam ciência! Portanto, elas estão engajadas em produzir uma Neurociência, assumidamente feminista, que se debruce sobre a materialidade dos corpos (e especialmente do cérebro), mas que se preocupe ao mesmo tempo, politicamente, com as hierarquias de gênero.
Essa relação entre sexo e gênero, natureza e cultura foi e continua sendo um ponto de discussão acadêmica feminista. O conceito de gênero foi proposto por teóricas feministas da segunda onda do movimento feminista, com o objetivo de distinguir formas culturalmente específicas de masculinidade e feminilidade do sexo anatômico, fornecido pela biologia. O objetivo era combater o determinismo biológico, distinguindo o que seria determinado pela natureza: o sexo, das construções sociais e culturais sobre a masculinidade e feminilidade: o gênero.
Essa distinção pressupunha que o sexo seria determinado pela natureza, e o gênero constituído através da cultura. Consequentemente, o sexo seria imutável e universal, enquanto o gênero variaria dependendo do contexto histórico e cultural. O que estava em questão para as teóricas feministas nesse momento, portanto, eram os sentidos e significados culturais das diferenças de gênero. Até então, o domínio do sexo, da biologia e da natureza, visto como imutável, a-histórico e universal, não estava em discussão.
Assim, a nova perspectiva do Neurofeminismo sobre a ciência propiciou que feministas não apenas reivindicassem a inclusão de mulheres na ciência, como também começassem a demandar a inclusão de diferenças - na experiência, percepção e valores - na produção científica. É a partir da desconstrução de pressupostos de neutralidade e objetividade do conhecimento científico, portanto, que vai surgir também a ideia de uma ciência feminista, ou seja, “um saber alavancado em uma perspectiva crítica feminista de gênero.
Referências
NUCCI, Marina Fisher. Crítica feminista à ciência: das “feministas biólogas” ao caso das “neurofeministas”. Revista Estudos Feministas, v. 26, n. 1, 2018.
NUCCI, Marina Fisher. “Não chore, pesquise!”–Reflexões sobre sexo, gênero e ciência a partir do neurofeminismo. Anais da ReACT-Reunião de Antropologia da Ciência e Tecnologia, v. 2, n. 2, 2015.
NUCCI, Marina Fisher. Neurocientistas feministas e o debate sobre o “sexo cerebral”: um estudo sobre ciência e sexo/gênero. Em Construção: arquivos de epistemologia histórica e estudos de ciência, n. 5, 2019.