Livia Nascimento Rabelo
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Neurociência e compulsão por sexo

Neurociência e compulsão por sexo

A atividade sexual é essencial para a sobrevivência individual, assim como comer, dormir, etc. O problema é que algumas pessoas desenvolvem compulsões em cima dessa atividade “normal”, e, com isso, a prática passa a ser patológica. As compulsões sejam comportamentais ou químicas, envolvem processos e neurocircuitos semelhantes. Que tal falarmos um pouco sobre isso?

Com a crescente evidência de que comer demais pode ser um vício real, conforme definido por mudanças mensuráveis e verificáveis nos centros de saliência límbica, a atenção a esse problema veem aumentando significativamente. No entanto, a sexualidade, com seus laços morais, é tratada muito menos objetivamente no debate científico. Porém, atualmente, os estudos trazem evidências crescentes de que a sexualidade compulsiva pode realmente ser patológica.

No manual diagnostico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5), contém o diagnóstico de Transtorno Hipersexual, que inclui o uso problemático e compulsivo de sexo. O Transtorno hipersexual é um diagnóstico para pessoas que fazem a prática de sexo ou pensam em sexo por meio de fantasias e desejos mais do que o normativo. Esses indivíduos podem se envolver em atividades como masturbação excessiva, pornografia, sexo com vários parceiros, entre outros. Como resultado, essas pessoas podem sentir angústia em outras áreas da vida, incluindo relacionamentos e trabalho.
 
E O QUE A NEUROCIÊNCIA TEM A CONTRIBUIR NESSE DEBATE?
 
O comportamento sexual compulsivo está associado ao funcionamento alterado nas regiões e redes cerebrais implicadas na sensibilização, habituação, descontrole de impulso e processamento de recompensas em padrões como dependência de substâncias. As regiões do cérebro envolvidas no processamento de recompensas provavelmente são importantes para a compreensão das origens, formação e manutenção de comportamentos viciantes. As principais áreas cerebrais ligadas a características sexuais compulsivas incluem os córtices frontal e temporal, a amígdala e o estriado, incluindo o núcleo accumbens.

As compulsões criam, além de alterações químicas no cérebro, alterações anatômicas e patológicas que resultam em várias manifestações de disfunção cerebral, e, muitas vezes, na inibição e a diminuição do tamanho / atividade dos lobos frontais (hipofrontalidade). Essa condição está associada a uma perda de capacidade de controlar impulsos provenientes do sistema límbico do cérebro e pode ser encontrada em vícios de drogas, alimentos e sexo.
 
Alguns estudos feitos com pessoas viciadas mostraram atividade celular reduzida nas pessoas que possuem compulsão por sexo no córtex orbitofrontal (OFC) ou córtex pré-frontal ventromedial, uma região do córtex pré-frontal relacionada com nossa personalidade, emoções, e, principalmente, ao comportamento social. Com isso, ele exerce uma importante influencia no controle de decisões estratégicas, e não impulsivas.

Além disso, existem muitos  “preconceitos” em cima do sexo, como também uma cultura machista que ainda permeia nossa sociedade (tendo em vista que a maioria desses transtornos são encontrados em homens) e grandes dificuldades em discutir esse assunto. Somado a isso, a receita mundial proveniente da indústria de sexo (pornografia) passa de bilhões de dólares (mais do que Microsoft, Google, Amazon, eBay, Yahoo, Apple e Netflix juntas), com isso, existe uma tendência a banalizar os possíveis efeitos sociais e biológicos da pornografia.

Sendo assim, proponho que assim como consideramos o vício na alimentação como tendo uma base biológica, sem sobreposição moral, é hora de olharmos para a pornografia e outras formas de compulsão sexual com a mesma perspectiva objetiva. Atualmente, com as pressões sociais e a mudança do panorama global incentivam o uso de exames da medicina em geral e das especialidades da neurociência clínica para diagnosticar precocemente ou tratar de forma eficaz essa disfunção.

Além disso, estudos usando EEG, observaram uma maior amplitude do P300 em imagens sexuais (quando comparadas a imagens neutras) entre indivíduos auto-identificados como tendo problemas com o controle de impulsos sexuais, forcendo provavelmente como uma fonte diagnóstica promissora. Falando em EEG, você sabia que temos esse produto em nossa plataforma? clique aqui e confira!


 

Referências

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION et al. Diagnostic and statistical manual of mental disorders (DSM-5®). American Psychiatric Pub, 2013.

HILTON, Donald L.; WATTS, Clark. Pornography Addiction: A Neuroscience Perspective (2011). Dostupné na: http://yourbrainonporn. com/book/export/html/368. Citované, v. 26, n. 5, 2016.

KOWALEWSKA, Ewelina et al. Neurocognitive mechanisms in compulsive sexual behavior disorder. Current Sexual Health Reports, v. 10, n. 4, p. 255-264, 2018.

TRÄNKNER, Dimitri et al. A microglia sublineage protects from sex-linked anxiety symptoms and obsessive compulsion. Cell reports, v. 29, n. 4, p. 791-799. e3, 2019.

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Jackson Cionek

New perspectives in translational control: from neurodegenerative diseases to glioblastoma | Brain States