Estudos com fNIRS revelam: Como a pobreza pode afetar o desenvolvimento cerebral de crianças

29/05/2022 09:50:20 Author: Tamara Nunes
 


Pobreza e desenvolvimento cerebral

La pobreza y el desarrollo del cerebro
Poverty and brain development

 
Todos nós sabemos que devemos nos alimentar de forma saudável, pois por meio dos alimentos adquirimos uma série de componentes fundamentais para o bom funcionamento e desenvolvimento cerebral. Dessa forma, a carência nutricional em crianças é um elemento crítico social que compromete a nossa futura geração. A fim de compreender os impactos da condição socioeconômica no desenvolvimento cerebral de crianças, neurocientistas se engajam em estudos utilizando a espectroscopia funcional por infravermelho (fNIRS). 
 
Nascer em desvantagem é algo comum para uma criança da periferia que não tem acesso a algo que é um direito fundamental de todo indivíduo, a alimentação. Ao longo da vida essas crianças passam por situações de estresse e de má nutrição, fatores que afetam a saúde e o sucesso acadêmico. Já é sabido pela academia que crianças que não tem acesso a uma alimentação adequada apresenta atrasos no desenvolvimento cognitivo, problemas emocionais, déficit de memória, planejamento e tomada de decisão.
 
Para tanto, a neurocientista cognitiva e diretora do centro de Neurociência e Sociedade da Universidade da Pensilvânia, Martha Farah, foi além e concluiu por meio de estudos científicos que crianças de baixa condição socioeconômica apresentam desempenho pior nas tarefas de linguagem e função executiva do que os de classe média. Farah observou que áreas importantes como o córtex perisilviano e córtex pré-frontal se desenvolviam com atraso em crianças mais pobres, fator que compromete a capacidade de memória e tomada de decisão.
 
Inúmeros outros estudos científicos foram realizados seguindo o mesmo tema, por meio deles, cientistas também comprovaram que crianças mais pobres apresentavam o hipocampo e regiões do córtex pré-frontal  menores quando comparadas às demais crianças com condições socioeconômicas superiores. 
 
Adicionalmente, cientistas da Universidade de Wisconsin realizaram um estudo utilizando ressonância magnética de 433 crianças de baixa condição social entre 4 e 18 anos de idade e observaram que elas apresentavam o córtex cerebral reduzido, camada externa do cérebro onde ficam alojados os corpos celulares dos neurônios. O córtex é o grande responsável pelo processamento de toda informação que chega ao cérebro.
 
Outro estudo realizado pelo grupo de pesquisa da Universidade de East Anglia na Índia utilizou o fNIRS, técnica de neuroimagem funcional não-invasiva que permite avaliar a atividade cerebral por meio do fluxo sanguíneo utilizando luz infravermelha. O estudo avaliou a memória de trabalho visual de crianças entre 4-48 meses e revelou que crianças com alta condição social apresentam mais capacidade de foco e atenção, evitando distrações e cumprindo tarefas com mais agilidade e assertividade.
 
Dessa forma, fica evidente por meio de embasamentos científicos as disparidades que ocorrem no desenvolvimento cerebral de crianças de diferentes classes socioeconômicas. As desvantagens são imensas, crianças pobres com alimentação precária já nascem em desvantagem competitivas por não apresentarem condições básicas suficientes para o seu desenvolvimento saudável. Logo, os estudos acima nos permite realizar uma reflexão mais profunda e nos permite evidenciar que essas crianças apresentam déficits que compromete seriamente o seu futuro e sua ascensão social. 
 
Para tanto, políticas públicas e projetos que possam beneficiar essa população são necessárias, visto que, milhares de sonhos de inocentes são cessados diariamente frente a uma condição que lhes é imposta. O futuro na próxima geração depende de ações emergenciais.
 
Referências:
 
WIJEAKUMAR, Sobanawartiny et al. Early adversity in rural India impacts the brain networks underlying visual working memory. Developmental science, v. 22, n. 5, p. e12822, 2019.

Rocheleau, J. How Poverty Shapes a Child's Mind and Brain. Brain Facts, 2019.
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Autor:

Tamara Nunes

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