Respiração, Sistema Autônomo e Vontade - A Dança Interna das Decisões - ICMPC - Brain Bee Ideas

A dança de salão é uma plataforma viva de experimentação do que chamamos de Eu Tensional, pois nos posicionamos sensorial e cognitivamente diante de um parceiro, de um ritmo e de um ambiente social. Dentro desse Apus (ambiente de percepção e atuação), o corpo ativa decisões sem a mediação de um pensamento deliberado — ou seja, decisões pré-reflexivas guiadas pelo Sistema Nervoso Autônomo.

1. Sistema Autônomo como Gatilho das Vontades

Toda vontade é antecedida por sinais viscerais — alterações no tônus muscular, pressão arterial, HRV (variabilidade da frequência cardíaca), temperatura e, principalmente, padrões respiratórios. São esses sinais que modulam os eus tensionais, ou seja, os estados corporificados que sustentam determinada percepção e ação.

2. Vontades Simpáticas vs. Parassimpáticas na Dança

Vontades Simpáticas (Ativação, Conquista, Desejo, Competição)

• Origem: Ativação torácica + adrenalina + respiração curta
  
  

• Correlato neurofisiológico: Ativação do córtex motor primário, redirecionamento de energia do pré-frontal para áreas de sobrevivência e performance.
  
  

• Exemplo na dança: desejo de impressionar, fazer um giro mais ousado, conquistar o olhar do outro.
  
  

• Risco: tomada de decisão impulsiva, desconexão com o parceiro, erro por excesso de antecipação.
  
  

• Sentimentos: excitação, tensão erótica, competitividade.
  
  

Vontades Parassimpáticas (Cuidado, Entrega, Fruição, Intimidade)

• Origem: Respiração abdominal + ativação vagal + HRV elevado
  
  

• Correlato neurofisiológico: Estabilização da SpO₂ e uso pleno do córtex pré-frontal (Mente Damasiana).
  
  

• Exemplo na dança: seguir o parceiro com leveza, improvisar de forma fluida, sentir a música como um organismo coletivo (Quorum Sensing).
  
  

• Resultado: decisões mais criativas, ajustadas ao contexto, com forte percepção emocional intersubjetiva.
  
  

• Sentimentos: fruição, afeto, sincronia, pertencimento.
  
  

3. Criando Condições Ideais para a Tomada de Decisão na Dança

Para Decisões Simpáticas Conscientes (sem colapso ou excesso)

• Aumentar a SpO₂ com pausas respiratórias conscientes entre sequências rápidas.
  
  

• Usar ritmos de transição (como bolero ou valsa lenta) para recuperar o equilíbrio autonômico.
  
  

• Treinar foco atencional em ótimos locais — ou seja, identificar sensações corporais que favoreçam performance sem colapso emocional.
  
  

Para Decisões Parassimpáticas Naturais (fruição e conexão)

• Estimular a percepção do corpo inteiro (Propriocepção Integrada): pés, quadril, tronco e respiração como um único campo.
  
  

• Criar micro-rituais (Ex: fechar os olhos por 1s antes da música, tocar o peito ou abdômen) para ativar o corpo território.
  
  

• Ouvir o parceiro: sentir mais do que comandar, entrando em quorum com os microtempos respiratórios e tensionais do outro.
  
  

4. A Respiração como Ponte Entre Corpo e Decisão

A alternância entre respiração torácica e abdominal é um ritual neurobiológico de alternância de eus tensionais. Ela comanda o grau de tensão do corpo e, portanto, o tipo de decisão que virá:

5. E Quando Estou Com Sede, Cansado ou Excitado?

Essas sensações emergem do estado metabólico interno, diretamente conectado ao eixo zona 2 metabólica neuroemocional. Quando dançamos muito rápido, entramos em limiares onde o corpo sinaliza:

• Sede → perda de eletrólitos + ativação simpática
  
  

• Cansaço → baixa oxigenação + queda da função pré-frontal
  
  

• Excitação sexual → superposição de estados vagais e simpáticos (excesso de noradrenalina com oxitocina)
  
  

Nestes casos, a decisão ideal emerge quando o corpo é ouvido — ou seja, quando o Eu Tensional é reconectado à Fruição:

A decisão correta não vem do pensamento, mas do alinhamento entre o estado corporal, o Apus e a Mente Damasiana.

Conclusão: Decidir com o Corpo Inteiro

Na dança (e na vida), decidimos com o corpo antes mesmo de pensarmos.
Decisões simpáticas e parassimpáticas não são opostas, mas complementares.
Respirar, sentir e pertencer (QSH) são as três chaves para acessar os eus tensionais ideais.
A dança, portanto, é um laboratório poético e neurobiológico onde a vontade se dança antes de se expressar.